Anteontem eu fui assaltado. O que levaram? Bom… pra resumir, a pedidos meus, eles deixaram a minha carteira…
Indo pra casa, desci do ônibus na Av. Tefé e virei numa ruela pouco iluminada. Tinha um fiesta modelo antigo, vermelho, com insulfilm, três filhos da puta caras encostados nele, ‘conversando’. Assim que eu entrei na rua, dois começaram a andar e um entrou no carro. Juro que eu achei estranho, mas sei lá, como eu sempre passo por aquela rua, continuei andando. Alguns segundos depois, os dois que estavam andando, pararam e eu continuei andando. Quando eu me aproximei mais um pouco, eles se viraram e anunciaram o assalto.
Eles me levaram pra um canto e foram revistando os meus bolsos, o outro se encarregou de tirar a minha mochila. Encarecidamente, pedi pra eles pelo menos me darem o conteúdo da mochila e a minha carteira com os meus documentos – que estava dentro da mochila. O que pegou a mochila, pegou a minha carteira (tirou o dinheiro, lógico) e jogou no chão. Nesse ínterim, o que estava, supostamente, armado passou o pente fino em mim, revistou minha cintura, minhas pernas e colocou a cereja no bolo
– não tá escondendo nada aí, não, né vagabundo?
Na carteira tinha uns 20 reais – no bolsinho da calça tinha R$ 60, precaução que eu sempre tomo quando eu tenho um pouco mais de dinheiro comigo-, levaram a minha mochila, meu mp3 player Samsung, meu óculos escuro da Tommy Hilfiger que eu comprei em New York e custou 15 dólares!!!, meus dois celulares, entre eles o meu querido nokia e51 com menos de dois meses de uso – mas pelo menos eu não paguei por ele, a tim me deu em troca de cordas pra eu colocar em volta do pescoço 😀 – e mais algumas outras coisas pouco relevantes: case de cds, agenda, um caderno velho, necessaire com produtos de higiene, um short, uma camiseta e etc.
Não tinha notebook na mochila. Esse é o principal motivo por eu não ter comprado um notebook até hoje. Só compro um quando eu tiver carro. Vai demorar, eu sei… paciência…
Durante o assalto, quando eu virava a cabeça pra falar com eles – eu tava de frente pra uma parede – um deles sempre dizia que era pra eu não ficar olhando pra ele.
Claro que sempre rola de dizer aquele clichê ‘pelo menos não te levaram a vida’ e bla bla bla. Mas, porra!, eu trabalhei pra comprar tudo isso, ninguém me deu nada – mentira! -, juntei dinheiro, me privei de algumas coisas, parcelei, depois, fiquei sem dinheiro pra pagar as parcelas e vem um bandido filho da puta e leva tudo embora em 10 segundos!?
Depois disso, continuei andando e quando olho pra trás, eles já estavam assaltando outra pobre coitado que nem eu. Aí eu parei em uma casa que tinha uns velhotes conversando, falei que tinha sido assaltado e pedi pra eles chamarem a polícia, nenhum deles tinha celular e me apontaram o orelhão. Enquanto eu ligava, o cara que foi assaltado depois de mim, já vinha andando e logo surgiu uma viatura da polícia. Ele parou, falou o que aconteceu e eu corri lá com ele. Entramos na viatura, demos um rolê pela redondeza e nada… Eles nos deixaram num posto da polícia, relatamos tudo pro seu puliça lá e deixamos nossos telefones no caso de encontrarem alguma coisa. Mas quem disse? Nada até agora e eu nem tenho mais esperança nenhuma.
Veja em que ponto chegamos. O cara vem me roubar, pergunta se eu não tô escondendo nada dele e ainda me chama de vagabundo…
Enquanto os bandidos estão por aí ‘defendendo o deles’, somos nós que temos que nos esconder atrás das grades, portões e cercas elétricas…
Ser assaltado é horrível. É humilhante. É uma sensação de impotência total, afinal é você contra um maluco que tem uma arma na mão e, já que está disposto a encarar uma situação dessas, está disposto a qualquer coisa… A impotência não é só durante o assalto, mas depois também. Ir na polícia fazer um BO não adianta de nada, vai pra mesma fogueira dos rios de dinheiro gastos com a propaganda oficial, com os jingles que grudam na nossa cabeça e nos fazem ficar cantarolando que ‘eu tenho orgulho de ser amazonense e do governo que acredita nessa gente’.
O que nos resta são as dívidas pra comprar tudo de novo e esperar até o próximo assalto. E torcer pra que eles continuem levando apenas os bens materiais.
O bizarro dessa história é que exatamente há um ano e três ou quatro dias, eu fui assaltado na frente da UFAM.
edit: há um ano exato eu fui assaltado na frente da UFAM, foi dia 16 de dezembro de 2007. Égua! Saravá!
E por mais que eu tente me convecer do contrário, as sequelas ficam. Como o negócio aconteceu anteontem, eu só penso nisso. É na hora de dormir, assim que eu acordo, passando pelo local onde aconteceu, andando na rua…
Faz tempo que ser assaltado ou furtado aqui em Manaus virou um questão de ‘quando’ e não de ‘se’. Eu já vi gente de outras cidades dizer que é apenas uma questão de tempo pra Manaus se tornar uma das cidades mais violentas do Brasil. E admitamos, sem paixões ou orgulho de ser amazonense, que estamos no caminho certo…
Esse assalto só multiplicou em muitas vezes a minha vontade de ir embora pra sempre do brasil. Se dependesse de mim, eu já tava nos EUA ou na Europa faz tempo… Não que lá não existam assaltos, mas a ocorrência desses eventos é tão ínfima que dá desprezar.
Pode falar o que quiser do brasil: carnaval, futebol, pessoas alegres, belezas naturais e que é o melhor país do mundo. Mas eu trocaria tudo isso aí por andar na rua tranquilamente, sem medo. Veja que nem eu me refiro às outras benesses como internet de verdade, gadgets baratos, pringles custando um dólar e um transporte público decente. Eu falo de segurança, e apesar do medo constante de ataques terroristas, New York – leia-se Manhattan -, por exemplo, é incrivelmente segura.
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